A ilusão dos investimentos na moda

Há uma serenidade silenciosa que encontramos na primeira caneca de café de manhã. A natureza desperta, os pássaros começam a cantar e a neblina matinal lentamente se dissipa. E assim, em meio a essa tranquilidade, junto a um bom livro costumo iniciar o meu dia e passar uma meia hora refletindo. Recentemente, estive pensando em uma ideia intrigante: Porque existe tanta sedução nos investimentos em setores e temas que estão “no hype”?

No mercado financeiro, de tempos em tempos, novos setores emergem, capturando a imaginação e atração de muitos. Teses como segurança digital, metaverso, inteligência artificial e todo o tipo de futurismos dignos dos melhores filmes de ficção científica. Estes “temas da moda” prometem riquezas e sucessos sem precedentes. Mas, assim como ver uma estrela cadente e fazer um pedido, o brilho pode ser efêmero.

Ao longo da minha experiência como investidor, consegui muito cedo entender que a novidade, por si só, não é garantia de sucesso. A atratividade de um setor no auge de seu hype é inegável. Eles costumam prometer grandes inovações, disrupções de mercados tradicionais, crescimento exponencial e, em muitos casos, uma mudança de paradigma. Quem não fica encantado ouvindo falar de viagem no espaço, de reuniões no metaverso ou a explosão das mais diversas AIs capazes de produzir tudo o que podemos imaginar de texto, a imagens, videos, apresentações, tudo isso é extremamente fascinante.

Entretanto, quanto mais se mergulha neste cenário deslumbrante, mais se torna vital lembrar que cada setor, por mais promissor que seja, traz consigo suas próprias complexidades e desafios. E assim como as ondas do mar são imprevisíveis, também são os desdobramentos de investir em setores emergentes.

Olhando para o passado, temos lições claras de que nem tudo que reluz é ouro. Tomemos a Bolha das Tulipas no século XVII, por exemplo. Na Holanda, os preços de algumas bulbos de tulipa chegaram a ser negociados por valores mais elevados que muitas casas. No entanto, essa euforia foi passageira e, em 1637, o mercado entrou em colapso, resultando em uma devastação econômica.

Avançando algumas centenas de anos, o frenesi em torno das startups da internet no final dos anos 90, conhecido como a Bolha da Internet, é outro alerta. Empresas com pouco ou nenhum lucro viam suas ações subirem vertiginosamente. A euforia era tamanha que muitos ignoraram os fundamentos básicos. Contudo, quando a realidade se instalou, trilhões foram varridos dos mercados em poucos meses.

Recentemente, o mundo das criptomoedas e ICOs também trouxe lições valiosas. Muitos projetos, surfando na onda de entusiasmo em torno da tecnologia blockchain, arrecadaram milhões baseados em meras promessas. A realidade? Uma grande quantidade desses projetos evaporou, deixando para trás um rastro de investidores desiludidos.

Não me entendam mal: inovação e progresso são essenciais. No entanto, para o investidor inteligente, é crucial discernir entre a genuína promessa de um setor e a mera ilusão criada pelo alvoroço momentâneo. É uma dança delicada, equilibrar o entusiasmo da novidade com a sabedoria da prudência.

Ao analisar esses novos horizontes de investimento, faça uma pausa, assim como faço ao amanhecer, reflita à cerca desses temas e tente entender as razões de investir neles. A tentação gerada pela ganância de sair da estratégia tentando encontrar esses potes de ouro do arco-íris podem não passar de uma ilusão, que geralmente vem acompanhada de um prejuízo financeiro proporcional ao tamanho do entusiasmo.

Acredito que todos nós devemos abraçar a inovação, mas com serenidade e discernimento. Porque, afinal, a verdadeira arte de investir não reside em seguir cegamente o novo, mas em compreender profundamente o valor real por trás dele.