Enfrentando Meus Próprios Vieses Nos Investimentos

Em tempos onde a era digital celebra a perfeição, percebo uma tendência paradoxal e preocupante. Muitos indivíduos, na busca pela aceitação social, estão cada vez mais focados em compartilhar somente os melhores momentos de suas vidas, as conquistas e sucessos, procurando sempre retratar uma existência idealizada, que mais se assemelha a um comercial de margarina. No entanto, isso está longe de representar a realidade complexa e cheia de nuances da vida humana.

Este fenômeno também tem se infiltrado no mundo dos investimentos. Muitos profissionais do mercado financeiro, infelizmente, propagam uma imagem de infalibilidade, onde erros são inconcebíveis e os vieses comportamentais parecem ser algo estranho a eles. Isso pode dar uma falsa impressão de perfeição que mascara a verdade – todos nós temos vieses e cometemos erros.

Há pouco tempo, me deparei uma relutância em produzir conteúdo. Isso se deu porque tive dificuldade em continuar conduzindo uma narrativa que fosse totalmente transparente e que expusesse não só os meus sucessos, bem como minhas próprias falhas.

A ideia de admitir que também sou vulnerável, que cometo erros, que sou influenciado pelos vieses comportamentais e que existem meses nos quais não consigo fazer o aporte, parecia para mim ser uma perspectiva pouco atraente para as redes sociais.

Parece que as pessoas preferem a imagem de um consultor financeiro que personifica uma vida perfeita e próspera, alguém com milhões investidos, ao invés de uma figura que pode ser igual a elas, porém com uma organização financeira mais aprimorada. Essa melhoria não é fruto do acaso ou sorte, mas sim de anos de estudos aprofundados. É crucial lembrar que antes de aconselhar outros sobre investimentos, eu passei por inúmeras experiências financeiras, boas e ruins e tudo que eu passo, é o que aplico na minha própria gestão financeira e carteira de investimentos. Essa vivência real, recheada de sucessos e fracassos, é o que fornece a base sólida para o conselhos que ofereço.

No entanto, acredito que a transparência e a honestidade são princípios fundamentais em qualquer campo, e os investimentos não são exceção. Desde que comecei a investir, já vivenciei momentos que testaram a resiliência do meu autocontrole e a fidelidade a minha estratégia.

E resolvi compartilhar uma situação que aconteceu comigo, onde confrontei uma dessas circunstâncias, uma situação que destacou um viés de ancoragem, um fenômeno comportamental em que nos prendemos a um ponto de referência específico, impedindo a capacidade de tomar decisões financeiras informadas e ponderadas.

Esse viés se manifestou quando mergulhei na reavaliação do meu portfólio de investimentos. Durante os últimos meses resolvi começar a reformular o meu portfólio de investimentos por terem algumas coisas me incomodando. Esse processo começou por revisitar a decisões que me fizeram incluir alguns ativos, refazer algumas análises e reanalisar os percentuais de alocação.

Porém depois de tudo pronto, veio a hesitação em colocar em prática as mudanças e mostrou uma âncora que me detinha esperando pelo ‘momento ideal’ para executar esses ajustes.

Mesmo tendo aprendido ao longo da minha jornada que, muitas vezes, o “momento perfeito” é mais uma ilusão do que uma realidade. E que essa espera excessiva, sob a justificativa da cautela, pode acarretar em perda de oportunidades valiosas. Foi então que decidi deixar essa ancoragem de lado, ambandonar a hesitação e adotar uma abordagem mais pragmática.

Com muita determinação, ontem executei o plano, que foi talvez um dos maiores movimentos desde que comecei a investir. Executei a venda de 20 ativos diferentes, enxuguei o número de ativos no meu portfólio de 65 para 45, ajustei meu percentual macro de 30% core e 70% Satélites para 40% core e 60% satélites aumentando significativamente a estratégia passiva com ETFs e reduzindo a ativa e realocando todo o capital das vendas, para a compra de ativos que estavam abaixo do percentual ideal que eu determinei, independente de preço de tela.

E confesso não foi nada fácil. Vender ativos no negativo, e investir ativos no positivo foi bastante desafiador. No entanto, essas são as decisões que às vezes precisamos tomar como investidores. E são importantes para aumentar a confiança na estratégia e manter a nossa visão de longo prazo.

E dessa experiência, extrai uma lição valiosa que gostaria de compartilhar:

Nenhum investidor, independentemente da sua experiência, é imune aos vieses comportamentais. Eles fazem parte da condição humana e não podem ser completamente combatidos. A melhor estratégia, então, é aprender a conviver com eles, a identificá-los quando eles surgem e a compreender como podem influenciar nossas decisões e buscar formas de driblá-los.

Aprimorar essa consciência dos nossos vieses é o primeiro passo para tomar decisões financeiras mais informadas e racionais. Com o tempo, aprendemos a equilibrar nossos instintos com nossa lógica, integrando nossos sentimentos e emoções no processo de tomada de decisão, em vez de permitir que eles nos controlem.

Em última análise, investir é um jogo de equilíbrio, onde a compreensão e o reconhecimento dos nossos próprios vieses podem nos ajudar a manter nossa postura, permitindo-nos navegar pelas incertezas dos mercados com confiança e sabedoria.

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